Pais flutuantes

Que lindo que depois de 8 anos eu fale sobre nossa jornada. Eu demorei para falar sobre o assunto e inclusive muitos amigos só souberam através da live que fiz semana passada no canal @escolha_ser_feliz. Foi estratégico? Que nada. Nada foi pensado e traçado nesse meu/nosso caminho. Não tinha régua nenhuma pra traçar uma linha. Para começar não tinha base/chão para me equilibrar. Não tive um ponto de partida, muito menos de chegada. Digo que foi um salto, um salto no espaço.

Eu teria inúmeros casos que passamos para contar aqui. Poderia fazer lives intermináveis contando o nosso dia a dia em casa. Poderia passar o dia em uma mesa debatendo sobre o tema escolar da Olívia. Poderia escrever um livro de mais de 300 páginas sobre as minhas transformações e aprendizados. Essa é a sensação agora, esse infinito do 8. E esse número tão simbólico – signo do infinito e dia de aniversário da Olívia.

O trajeto nada mapeado acredito ser comum para a grande maioria. Entendo que todo pai e mãe quando se deparam com um filho, ele dá esse avanço no espaço e esse pulo no vazio. Existe tanto a ser entendido e preenchido. Aos pais que ao pularem se deparam com alguma questão ainda maior torna esse pulo um pouco mais assustador.

Quando nos deparamos com uma questão com nossa filha não conseguíamos tatear nada. Parecia que literalmente flutuávamos nesse espaço onde não tínhamos muita noção de como se deslocar sem a tal gravidade. Tudo voava ao redor e tínhamos muita dificuldade de nos organizar. Nada estava pronto para esse momento e por muito tempo depois. Vejo-me assim como participante desse grupo, de vamos chamar assim, de pais flutuantes. Incrível como essa analogia me surge agora quando decido escrever sobre esse assunto para essa coluna.

Essa flutuação não parece ser gostosa, é desesperadora de fato. Você tem que aprender a estar nesse lugar, se movimentar, como ter controle em um momento que muito provavelmente você ainda está girando como em uma centrifuga. Enfim, como seguir o caminho sem ter como premissa o que você acreditava como certo e verdadeiro e que agora não lhe servem mais?

Nessa fase precisamos ser vistos também, assim como a criança em si. A psicanálise foi de fato nosso impulso. Impulso é antônimo de retraimento. E retraimento relacional é como nos dirigimos à dificuldade que a Olivia, e por que não nós, tivemos nessa primeira infância dela. E nesse impulso familiar dentro do espaço, fomos nos equilibrando e assim podendo possuir instrumentos de medida nossos, começamos a construir a base de apoio e sustentação e apesar de não termos tido um ponto de partida predeterminado, de alguma maneira ele se fez. Nós partimos daquele ponto e chegamos hoje a esse outro lugar, não determinado anteriormente mas tão surpreendentemente cheio de nós mesmos e tão liberto. A flutuação que a princípio amedronta nos deu um amplo navegar. Fugimos do destino perigoso objetual e técnico. Nada como um salto para nos fazermos livres e criadores. 

Eleonora Gomes

Artista plásticas, curitibana – 41anos –

mãe de Olívia que na primeira infância apresentou retraimento relacional. Através da psicanálise encontrou base para o desenvolvimento familiar. Uma intervenção a tempo da família e dos profissionais e anos intensos de muita coragem, transformações, e aprendizado apontam para a importância de não se fazer diagnósticos precoces e de se apostar na criança. 

Essa história é contada no livro infantil A jornada de Olívia, da psicanalista Eliane Gomes (tia da Olívia).

Contato Instagram @eleonoragomes

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