Enlaces Terapêuticos: alimento para o vínculo entre pais e crianças no início da vida.

O vínculo pais-bebês é o berço do desenvolvimento emocional, nutrindo o indivíduo para a vida toda. Vitalizar vínculos, fortalecer competências, acolher vulnerabilidades tem sido o trabalho de profissionais, que em situações de necessidade, são convocados a acompanhar este momento da vida familiar.

Demandas emocionais intensas podem trazer ansiedades para pais e bebês em vulnerabilidade. Impactos frente a transformações e estados de sensibilidade podem necessitar acolhimento, reconhecimento, autorização e compreensão para facilitar desenvolvimentos singulares.

Importa favorecer a prática integrada entre vários profissionais de saúde, valorizando o acompanhamento inicial pediátrico como porta de entrada. Desenvolvemos ensino, pesquisa e prática clínica psicodinâmica em uma universidade federal de medicina e saúde e hospital geral de alta complexidade. Acompanhamos famílias com bebês e crianças nos primeiros 3 anos de vida, em Intervenção nas relações iniciais e em Grupos de atendimento conjunto, a partir da abordagem de consultas terapêuticas psicanalíticas.  

O encontro clínico com profissionais pode ajudar na sintonia, no contato pais-bebês e na aproximação para o compartilhamento de estados afetivos em situações de fragilidade e necessidades mútuas de proteção.

As competências do bebê se evidenciam desde os primeiros momentos, em olhares, convocações, necessidades de se colocar como agente de suas intenções sob a legitimação do adulto. Encontrar um ritmo conjunto nem sempre é fácil!

O bebê também se nutre do contato compartilhado, da possibilidade de mostrar suas escolhas e formas próprias de se relacionar com o que lhe é oferecido. Ele também quer ter vez no vai e vem das intenções!

Como terapeutas, acompanhamos em nossa fala a voz interna do bebê, amplificando a possibilidade de construção de uma autonomia com sustentação compartilhada. 

Histórias antigas e desafios emocionais com sofrimentos não elaborados ao longo da vida, gestação e nascimento podem demandar acompanhamento sensível nos primeiros tempos para que as ligações possam se construir também a partir das relações atuais com cada bebê. Ana Vitória e sua mãe, por exemplo, precisaram de muito suporte para se “desprenderem” das relações aprisionadas por um difícil luto de uma gravidez gemelar com perda de uma das gêmeas logo após o nascimento.  

Ana Vitória aos poucos foi se diferenciando da irmã gêmea que não pode ter vida. Ao dar voz às iniciativas e mudanças da bebê, a terapeuta facilita a flexibilização do olhar da mãe para a filha em uma relação menos permeada por culpas.     

A partir das primeiras relações alimentares se demonstram as qualidades e vulnerabilidades no vínculo. No Grupo semanal de atendimento conjunto, ficamos atentas às comunicações não verbais dos bebês e seus pais/mães, comentando sobre suas dificuldades alimentares. Amplificam-se os canais de contato. O grupo se beneficia do espaço multidimensional para compartilhar experiências.

Nem tão bebê, mas ainda pequena criança, Luís chega aos dois anos, como alguns, com um diagnóstico de sério transtorno de desenvolvimento. A vivência lúdica no atendimento vincular e no grupo de pais-bebês/crianças nos mostra seu desejo de interação, comunicação e capacidade de simbolização. No grupo, em que manifestações singulares buscam olhares coletivos, percebemos e amplificamos o “faz de conta” de cada um.

Com Gabriela (e sua mãe Lia) compartilhamos muitos “presentes imaginários” na despedida do grupo após a expansão de uma redução seletiva de alimentos e de contato social. Atividades em que transformamos o “concreto “e literal em psíquico e simbólico são contribuições importantes do olhar psicanalítico para a evolução no tratamento.

Reminiscências parentais de seus próprios cuidados quando crianças embalam nossos encontros. O contato com aspectos infantis integrando crianças, pais e terapeutas favorecem o compartilhar de experiências emocionais.    

Improvisação, prosódia, melodia, co-construção, ritmo, interludicidade, trabalho conjunto, parcerias, prazer compartilhado, encontros e despedidas, possíveis retornos e elaborações… ingredientes do desenvolvimento da parentalidade e do se tornar sujeito em relação.

Mariângela Mendes de Almeida

Psicóloga e psicoterapeuta, mestre pela Tavistock Clinic e University of East London e doutora pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Associada Clínica do Departamento de Criança e Família da Tavistock Clinic (de 1988 a 1993). Membro Filiado à Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). Especialista em Psicopatologia do Bebê pela Universidade de Paris XIII. Coordenadora do Núcleo de Atendimento a Pais e Bebês no Setor de Saúde Mental do Departamento de Pediatria da Unifesp. Membro do Departamento de Psicanálise

com Crianças e Docente do curso Relação Pais-Bebê: da Observação à Intervenção do Instituto Sedes Sapientiae.

Contato. e-mail: mamendesa@hotmail.com Fone: fone 3842 8839 e o da Unifesp 5576 4984, Núcleo de Atendimento a Pais e Bebês, Setor de Saúde Mental, Pediatria.

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