A Arquitetura como auxiliar da terapia infantil

Figura 1 Um ambiente bem projetado estimula os diferentes usos que abriga e é capaz, inclusive, de estimular aproximações entre pessoas de diferentes realidades e faixas etárias. Projeto institucional por Sulkin Askenazi. https://www.sulkinaskenazi.com/nia-school-bosques-1      

A concepção do projeto arquitetônico para definição do espaço clínico para terapia infantil faz ser necessária, por parte dos projetistas, uma pesquisa ampla em busca de entender como as definições arquitetônicas estão relacionadas ao tratamento terapêutico específico e como podem estimulá-lo ou até mesmo otimizá-lo. Por exemplo, levamos em consideração aspectos importantíssimos, como personalização e adaptabilidade, para concepção projetual, visto que cada situação emocional é única e cada paciente requer tratamentos específicos e, consequentemente, espaços adequados a cada um destes. Este, em nosso ponto de vista, é o principal desafio para definição projetual de uma sala de atendimento em terapia, para além das questões comuns a quaisquer projetos arquitetônicos, como orçamento disponível para execução e disponibilidades de elementos no mercado local que possam ser especificados em projeto. Além dessas questões de personalização espacial adequadas ao próprio paciente, o fato de ser direcionado a crianças, faz com que o consultório envolva composições de móveis e elementos que também atendam às necessidades do próprio profissional e do responsável por elas, ou seja, as definições projetuais não são voltadas exclusivamente ao público infantil e, para o acompanhamento terapêutico, elas devem, inclusive, objetivar um ambiente propício para minimizar distâncias entre o adulto e a criança, mais facilmente evidente na diferença de dimensões corporais e, consequentemente, nas soluções ergonômicas.

Aspectos importantes em qualquer consultório:

Figura 2 Móveis básicos recebem animação de cores através dos objetos expostos, e maior conforto com referências a natureza, como a madeira, vegetais e iluminação artificial amena. Projeto residencial por HAO Design. https://www.haodesign.tw/amusement-casa  

Tranquilidade: promover uma estética de lar é uma estratégia comum para nos aproximar do conforto dos pacientes em atendimento e, para isto, é usual a utilização de objetos como abajures, poltronas, almofadas e decorativos, além do emprego de acabamentos em materiais naturais, presença de plantas e atenção a uma iluminação mais amena, com temperatura de cor neutra a quente.

Energia: características frequentemente relacionadas a crianças são vitalidade e energia, por isto, é importante um cantinho dedicado ao estímulo de sua atenção e concentração, com brinquedos e objetos específicos para simular um possível lugar para brincar que pode ser que exista em seus próprios lares. Tendo este espaço multiuso em vista, a composição de elementos que remetem ao lar, com elementos de ambientes para brincar, farão melhor sentido e serão mais agradáveis esteticamente. Assim, os acabamentos e cores estimulantes podem ser garantidos por conta dos próprios objetos a serem manipulados pelas crianças durante a consulta, já que todo produto direcionado ao público infantil tende a apresentar características específicas para estímulo de todos nesta faixa etária, como a presença de diferentes texturas, váriadas formas e cores predominantemente primárias e secundárias.

Figura 4
A mesa com o tampo de encaixe permite adaptar rapidamente sua altura para maior conforto de acordo com a altura do usuário.
Projeto p’or Ungaretti+Costacurta
https://br.pinterest.com/pin/777433954410125015/?nic_v2=1a3sSt3d9

Conforto: diferentes pessoas requerem diferentes espaços para se sentirem completamente confortáveis e, além disso, todo ser humano, com suas variações emocionais, sente-se mais ou menos confortável em diferentes situações de ambientes, a depender do seu estado. Por isso, sempre que possível, é interessante variar as possibilidades de situação corpo-espaço para possibilitar certa maleabilidade e adaptabilidade espacial segundo características de cada paciente. Por exemplo, uma toca é um excelente brinquedo que pode fazer uma criança se sentir mais acolhida em momentos de medo ou insegurança, mas há crianças que nessa mesma situação preferem ter uma visão mais ampla do lugar que ocupam para lidar com essas sensações, então uma possibilidade de acomodação no ambiente da sala que permita este ponto de vista seria uma ótima opção para fazer com que essa criança se sinta mais confortável. Sendo assim, para otimização na promoção do maior conforto aos pacientes, levando em consideração a especificidade do trabalho terapêutico, que é extremamente personalizado, faz-se interessante garantir uma maior adaptabilidade possível aos elementos que compõem o espaço.



Figura 5
Diferenças de nível entre os pisos do ambiente das crianças e do ambiente dos adultos gerou a aproximação de seus pontos de vista, deixando-os no mesmo nível e, com isto, estimulando a comunicação entre eles.
Projeto educacional por HIBINOSEKKEI + Youji no Shiro
https://www.archdaily.com.br/br/768008/ob-jardim-da-infancia-e-creche-hibinosekkei-plus-youji-no-shiro?ad_medium=office_landing&ad_name=article

Escala humana: a principal medida de referência para quaisquer projetos arquitetônicos é o próprio corpo humano. É preciso então dar atenção ao fato de que a escala humana infantil é diferente da adulta, e também tende a variar muito mais frequentemente que esta, principalmente a depender da faixa etária dos pacientes frequentes ou para os quais os profissionais são especializados. Em suma, quanto mais os objetos e móveis estiverem adequados às dimensões do corpo e pontos de vista dos pacientes, menos eles se sentirão intimidados pelo espaço que ocupam.

Figura 6
Revestimentos antiderrapantes, acolchoados, diferentes formas e texturas, garantem um ambiente seguro sem deixar de ser estimulante.
Projeto institucional Dorte Mandrup.
https://www.dortemandrup.dk/work/amager-childrens-culture-house-denmark

Segurança: ao tratar com crianças, é imprescindível ter muita atenção e cuidados na composição dos objetos no espaço assim como nas características dos materiais especificados para a sala de atendimento, como revestimentos antiderrapantes e/ou acolchoados, por exemplo, para que sejam evitados quaisquer acidentes e ferimentos.

Finalmente, para não esquecer:

O projeto arquitetônico diz respeito à resposta espacial a todas essas e outras questões imprescindíveis para a promoção do maior conforto ao profissional, ao paciente e a seu responsável, durante os atendimentos. Para isso, além dessas questões que se enquadram a quaisquer projetos específicos para clínicas especializadas em terapia infantil, é preciso um cuidadoso estudo dos efeitos espaciais sobre o comportamento e sensação das crianças nos ambientes pensados para elas. Além disso, cada atividade exercida num mesmo espaço requer necessidades espaciais também específicas, e não seria diferente quanto às inúmeras metodologias e especialidades em terapia existentes e, por isso, é imprescindível que as atividades e possibilidades de uso do espaço estejam bem definidas. Dessa forma, entendemos e acreditamos que o trabalho arquitetônico é um grande aliado das atividades humanas, não restrito ao ato de definição dos ambientes que as abrigam, mas sim, e principalmente, para promover a otimização e auxílio aos tratamentos e acompanhamentos dos pacientes, sejam eles quais forem.

Rafaela Teixeira e Diego Pessoa de Melo

Conecta Arquitetura

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